Laura nunca gostou do seu nome, por isso, namorou com Miguel. Parecia que na boca dele o nome tomava outras proporções. Reparadoras.

Todos os dias, que nem cabras, perfilavam os caminhos das aldeias, deitavam-se de costas sobre as planícies, saltitavam de pedra em pedra, e depois, já cansados, faziam amor. Fundiam-se, diziam amamo-nos como ninguém e logo se sucediam episódios de intermináveis juras. Miguel enrolava o cabelo dela e Laura enterrava a cabeça no tronco dele, revolvendo a terra, serena, com o corpo aberto ao mundo. Naquele momento, podiam pedir-lhe qualquer coisa, ela mostrar-se-ia recetiva. Flutuava, evadia-se, derretia. Miguel levantava voo com ela, passava-lhe as mãos pelas bochechas, apertava, dizia são-bochechas-de-bebé-meu-amor.

Quando o sol se punha – o auge – um à procura do outro, perdidos. A loucura. Era sempre assim. Ou Miguel tivera ficado para trás a apertar o cordão da bota ou Laura tivera ficado a contemplar o sol envergonhado, que se escondia entre as montanhas e mergulhava que nem um falcão avistando a presa.

Mas quando se reencontravam, mil explosões, o êxtase, a loucura. O mergulho na felicidade. Ela agarrava-o, aflita, pelo pescoço e chamava-o – agora baixinho.

E ele dizia:

– Laura…

Então ela desabrochava como uma flor em riste, forte; brava; e fazia-se maior.

A felicidade plena…

Voltavam para casa de mãos dadas, continuando a chamar um pelo outro, desta vez, garantindo que nada os traísse.

Ambos já tinham amado outras pessoas, noutros lugares. Miguel já quase tinha casado com uma rapariga da Holanda e Laura tivera namorado durante nove anos.

Miguel salvou-a, Laura salvou-o.

Liam poemas, ouviam “Hello, I love you” dos The Doors e, quando parecia não haver nada de novo para ver, ouvir ou ler, Miguel surpreendia com um vinil inédito de Cohen e juntos mergulhavam no inebriante som novo. Dançando. Morrendo. De amor.

Parecia uma casa acabada de limpar.

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