Ando à tua procura com muita urgência. Como quem lê O Livro do Desassossego de Fernando Pessoa ou Palomar do Italo Calvino para se salvar. Vou aos bares para ver se te encontro e apenas saio à rua para à noite, no escuro do meu quarto, com o teu poema à cabeceira, imaginar que passaste por mim.

O que eu gosto mais nos livros são os prefácios e as dedicatórias. Normalmente, encontram-se no início, onde também se encontra a coragem do autor, que o balançou na escrita. Além disso, para se escrever um livro tem de se ter alguém a quem muito amar, sabem… para lho dedicar. É por isso que eu nunca escreverei um…

A vida desgosta-me como um remédio inútil. E é então que eu sinto com visões claras como seria fácil o afastamento deste tédio se eu tivesse a simples força de o querer deveras afastar.
Vivemos pela ação, isto é, pela vontade. Aos que não sabemos querer – sejamos génios ou mendigos – irmana-nos a impotência. De que serve citar-me génio se resulto ajudante de guarda-livros? Quando Cesário Verde fez dizer ao médico que era, não o Sr.Verde empregado no comércio, mas o poeta Cesário Verde, usou de um daqueles verbalismos do orgulho inútil que suam o cheiro da vaidade. O que ele foi sempre, coitado, foi o Sr.Verde empregado no comércio. O poeta nasceu depois de ele morrer, porque foi depois de ele morrer que nasceu a apreciação do poeta.
Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?

(…)

«Quero só para sonho», dizem à mulher amada, em versos que lhe não enviam, os que não ousam dizer-lhe nada. Este «quero-te só para sonho» é um verso de um velho poema meu. Registo a memória com um sorriso, e nem o sorriso comento.

Fernando Pessoa, in Livro do Desassossego

São 4:07, acordei com sede e dores nas costas. A Maria dorme no quarto que partilhamos, o Bernardo dorme lá em cima com o Júlio, a Teresa nunca dorme em casa e o vizinho da frente, que eu acho que é nosso amigo porque já nos pediu a palavra-passe da Internet, dois ovos e polpa de tomate, dorme com a irmã e o cunhado para eles não se cansarem muito um do outro. Desligo o som à televisão para escrever este post, ah!… Assim consigo ouvir-me. A maioria das pessoas a esta hora está a dormir, por isso, o mundo é seguro e a única coisa de que tenho medo é que entrem porta adentro pela sala sem eu contar e me assustem com a cara colada à porta de vidro. Apetece-me ver o documentário sobre Sebastião Salgado, recomendado pelo professor de Publicidade, na aula de ontem. Ou então uma coisa mais leve para a hora como 13 Reasons Why, que não é assim tão bom, mas dá para esvaziar a cabeça dos problemas. Com isto, esqueci-me de dizer com quem eu durmo: contigo. Foi por isso que acordei e não consegui dormir mais, porque é mentira e é por isso que acordo a estas lindas horas.